22 de fev. de 2011

Por que vida saudável é uma questão de querer-se bem

O que é uma vida saudável pra você? Será que estamos sendo saudáveis em tudo, o tempo todo? Será que o que julgamos bom realmente é adequado?
Nesse tempo de reclusão tenho pensado em várias coisas que sabotam nossa saúde. Sim, por que é isso que fazemos, sem querer.
O tempo vem me mostrando que nem sempre o tempo disponível tem que ser esgotado. Que nem tudo que se ama tem que se desgastar até acabar. Que nem tudo que é ruim é tão horrível assim: mo mínimo, há uma boa finalidade por trás. E por fim, que a liberdade é preciosa, mas pode te levar pra longe demais, te forçando a voltar pro início.
Isso serve pra tudo, mas um dos maiores conflitos que temos explicitamente e que ilustram toda esta teoria é nossa alimentação. Tudo se reflete ali. Provado pela medicina ayurveda.

O interessante é que às vezes, pra cair na real, acontece um certo período que nos mantém em situação limitada, como a dor ou a fome, ou os dois juntos. Parece horrível, e seria, se não passasse, mas muitas reflexões acontecem de forma profunda num jejum de tudo ao mesmo tempo (comida, sexo, dinheiro, temperatura, saúde, lazer, trabalho).
Não vou ser masoquista e dizer que é o máximo, mas são estados de importância que nos ensinam algo.
Observando esta fase que passei, percebi o quanto meu corpo pedia o que estava precisando urgentemente: repouso e alimentação leve. A azia era tanta que não tinha mais vontade de comer: eu aceitava o alimento para doer menos. Comecei a selecionar.
Foi um período curto, mas me fez entender que as frutas são muito mais necessárias que eu pensava, pois não me machucavam, me refrescavam e davam alívio imediato. Era só tentar ouvir o próprio estômago que ele ditava o cardápio do dia: era tiro e queda.
O mesmo para a comida: aceitava o espinafre refogado, a salada fresca, o purê de batata, o ovo cozido, o cheiro verde como tempero único. Enjoei tudo que adorava: pão, carne, xis, iogurte, frios, chantilly, café, tempero artificial.

Nunca fui de frutas. Sempre comi de tudo acima, mas a preferência era o mais rápido, o mais temperado. Mas há mais de mês, tenho dobrado a ingestão delas, principalmente com sucos, vitaminas e lassi.
Agora estou pegando mais leve, e o legal foi a desintoxicação, ficar mais leve, aprender a dar preferência ao que é bom de fato. Claro que não vou abdicar das coisas que meu paladar curte, mas vou reconhecer melhor a gula e saber quando parar.
Quando falei de outros jejuns, é a mesma coisa. Existe um ritmo a ser respeitado se a gente ouve o corpo.
O trabalho exaustivo leva à perfeição, mas também ao desgaste, à estafa, à irritabilidade.

Observe seu ritmo. Tente perceber se as coisas que você mais gosta, ao mesmo tempo que te satisfazem de um lado, não te prejudicam de outro.

Uma descoberta: sabe aquele suco da Forever? Faço parecido. Descobri como usar a aloe vera no suco, sem sentir o gostão amargo:  raspe a polpa da aloe, umas duas folhas, e bata com água gelada e uma maçã sem casca. Uma beleza!

Aqui, um presentão que recebi e repasso: um livro muito legal que veio no email do meu restaurante natural prefereido: o Harmonia. Divirta-se!!!

Para Porto Alegre, Esteio e São Leopoldo, vou indicar, por amor à camiseta, os locais que gosto e onde você vai me encontrar quando estiver faminta passando por estas cidades!

Harmonia: Independência, 1153, São Léo. No almoço, saladas deliciosas, pratos quentes tão gostosos que nem parece comida vegetariana. No café da tarde, as delicias da padaria integral. Experimenta a torta de ameixa preta com requeijão, aahhhhhhh.....

Lancheria do parque: Avenida Osvaldo Aranha, 1086 Bom Fim, Porto Alegre.  Sim, é um local fast food, não gosto do almoço, mas o suco é bom e barato: uma jarra por três reais! Experimente ontem o suco de abacate com laranja: meu preferido. Se quiser apelar para rum xis bem gostoso, pede o salada acebolado. Amo! E ainda gasta só dez conto; cinco, se dividir com alguém. Hehehe!

Tá no forno: Rua Barão do Rio Branco, 176 Sapuca city. É pizzaria, mas tenta o wafler vegetariano ou atum: uma massa de shoarma gigante abraçada gentilmente em salada mista com molho branco...faz tele entrega:
 (51) 3474-7788

Sabbore Restaurante e Café, no Vida Bella Shopping, em Esteio: os melhores lanches, tortas, cafés, shakes, sucos e vitaminas da cidade. E baraaaatoooo!!!!


Bon apetit!

16 de fev. de 2011

Sem medo de ser feliz

Nesta entrada faço minha interação com outros blogs que leio, em mais um assunto referente à dança e expressão, técnica e personalidade.
Deixarei registrada minha visão, tentando colaborar com nossos estudos, tomando como referência  bailarinas que, creio eu, podem ilustrar muito bem alguns conceitos sobre os quais viemos debatendo nos últimos posts. A opinião de vocês é sempre bem vinda, os pontos de vista podem ser bem diferentes...
Uma das bailarinas que quero citar chama-se Orit Maftsir, uma israelita arretada, acho vocês já devem ter visto, mas agora abro espaço para fazer uma  interessante análise.
Porque a Maftsir? 
Bem, digamos que ela se encaixa perfeitamente no aspecto "personalidade" da dança oriental. Analisando friamente, acho que ela deixa um pouco a desejar em técnica, mas o resto, que tanto corremos atrás, a danada esbanja. Trata-se de facilidade e naturalidade para ilustrar momentos de alegria, drama, sensualidade, introspecção, brincadeira, interação. 
Houve uma época, cerca de seis anos atrás, que via muito a dança dela à la Dina, como citei nos posts anteriores (ainda bem que isso só fez parte da construção da dança atual). Esse exemplo também serve pra frisar que essas inspirações fazem parte, mas que normalmente é um momento provisório. 

A Orit tem uma leitura musical e rítmica excelente, mais dramática, mas é aquela bailarina que a gente olha e pensa determinadas vezes "puxa, não curti muito esse movimento" porém, ao mesmo tempo, não se consegue parar de olhar, pois a qualquer momento ela abre um sorriso gigantesco te convidando a ser feliz. E acho impressionante como ela faz isso bem. 
A dança é simples, porém nada de enfadonha, longe da mediocridade.
 


Fico imaginando como ela deve ser fora da dança, deve ser aquela pessoa cheia de amigos, que adora festa, alegria, cozinha, trabalho, passeio e não conhece depressão. Talvez até meio displiscente. Não a imagino chata, esnobe ou antipática. Sei lá se estou falando abobrinha, não a conheço em absoluto, mas é a idéia que me passa! 
Ela tem também um altíssimo amor próprio, por que posta vídeos dos solos dela como um presente, dedica suas danças para ocasiões diversas, mostrando que gosta de ser vista e não se não gostarem também, paciência, a pessoa mais orgulhosa do seu trabalho é ela mesma, pois ela sabe que tem algo a nos passar, com absoluta certeza. Isso é uma coisa realmente importante. E difícil para nossas autoexigências, não é? 

Eu mesma não costumo levar de forma tão radical essa atitude, pois ainda me incomoda um pouco a questão de não ter uma boa aceitação. Acho que no Brasil, isso se tornou uma característica bem própria nossa, mas pelo mesmo motivo, estamos ficando cada vez melhor na foto. Se resolvermos simplesmente negligenciar  a opinião alheia e o perfeccionismo, corremos o risco de fazer a dança retroceder a qualidade alcançada com anos de estudo, por tanta gente.
Acho que não seria esse o caso, obviamente, falando do caminho que precisaríamos seguir pra alcançar esta "leveza maior": o legal que a Orit faz, não é desfazer nossa opinião, mas não ter medo de se expor à ela.
Então por isso, acho que temos muito a aprender com a Orit. Não fique buscando milhões de técnicas, posturas e movimentos diferentes, talvez ache alguns bem doidos ou até interessantes, mas com certeza o maior ensinamento dela pra nós é o encontro de si mesma na dança: a tal personalidade.



A propósito, fiquei sabendo, olhando agora seus videos, que ano passado ela esteve aqui, no Rio de Janeiro...como não soube disso? Que pena, o workshop estava com pouquíssimas pessoas. Vamos caprichar mais na divulgação, né? Uma artista como ela não pode passar batido assim! Fica a bronca, hehehe! Abraços!

6 de fev. de 2011

Agora, sobre a face...emoção, construção ou caricatura?

Bah, que legal ver que o pessoal curtiu o assunto anterior! Agradeço muitíssimo pelas respostas e fiquei muito feliz de saber que consegui trazer algum esclarecimento, pois realmente esse é um assunto que me trazia muita dúvida, ouço muito sobre ele e apesar de abordar bastante estes elementos em aula, acabo esquecendo de colocar no blog, tanto detalhe pra gente cuidar, né? Mas vamos lá, se tá ficando gostoso, então, vou lançar mais um assunto que com certeza as nossas rakaças já questionaram: a expressão facial.

Aqui, não só como bailarina profissional mas principalmente como aluna e expectadora, quero partilhar minha opinião, histórias e minhas dúvidas com vocês.
Quando comecei a dançar e presenciar shows com uma diversidade maior de bailarinas, acabava comparando-as e também me surpreendendo com o fator expressão, muito mais que com a técnica, a menos que a diferença nesse quesito fosse gritante.
Como aspirante ao palco e como platéia, percebi que haviam coisas que me desagradavam demais na dança que tanto havia me cativado.
Uma delas era a expressão de algumas moças no palco. Havia dois tipos que particularmente me deixavam nervosa: a cara de quem vai se debulhar em lágrimas a qualquer momento (dor ou tristeza) e a cara de nada (blasé indiferente/tensa ao extremo).

Na minha ignorância inicial tentei sacar qual era a moral. Não saquei. Mas tudo bem, a vida continuou e com o tempo fui percebendo cada vez mais que isso era uma ferramenta de dramaticidade por causa da música, na tentativa de ser fiel à melodia/letra ao máximo ou no segundo caso, de concentrar-se para não errar o passo na coreografia.

Quando comecei a dançar em cena, nunca consegui ficar muito blasé, mas tinha um sorriso nervoso, contraído, meio forçado. Isso também era feio, mas com as filmagens e conversas entre colegas, a gente foi se exercitando para relaxar mais. Ficava também com a cabeça baixa. Nossa, esta foi mais difícil de consertar!
Consegui graças a uma colega muito querida que foi bem sincera, chegou no ponto certo e na hora certa, antes de uma apresentação importante. Era a Niriane, e ela disse assim (olha como nunca esqueci): "Dai, tu tem um movimento lindo, tua dança é uma das que mais gosto de ver, do que tu tem medo? Não precisa ter vergonha de nada, relaxa!"
Eu tinha vergonha por que sempre fui gordinha e me justifiquei assim. Aí a Karina (profe) me disse: "Tu não gosta da Suheir Zaki, por exemplo? Então, ela também teu o teu biotipo, e percebe como o pescoço dela está sempre à mostra! O queixo lá no alto, hiperclassuda!"
Então rapidamente concordei e a partir disso tudo começou a melhorar.

Quando veio a febre da Dina, muita gente aderiu à expressão dela, o que na verdade trouxe bastante caricatura para nossa dança. No caso dela, é muito natural, ela ri e conversa com a mesma expressão, ela É aquilo ali. Qualquer imitação descarada, ficava o ó.
Simplesmente, acho que tem coisas que são tão naturais e pessoais em termos de expressão facial, que se a gente tenta imitar sem sentir a verdade do momento ou a personalidade real daquela expressão nas entranhas, a coisa complica.

Dina: e essa tá bem suave!
Mesmo natural pra ela, à primeira impressão da Dina pra mim também era estranha, depois a gente acostumava (estudando ela) e via que aquilo não era tão forçado quanto parecia. E nos shows por aqui, sempre tinha gente na platéia que não entendia nada quando as bailarinas faziam cara de dor. Ficavam meio embasbacados, assim como eu no começo.
Hoje em dia ainda me vejo em platéias, reagindo mal, mesmo sem querer, a estes exageros expressivos (ou total falta de). Ao mesmo tempo, quando danço, ainda me vejo várias vezes perdendo o controle em algumas cenas de show, mas saindo melhor pela tangente, dando aquela viradinha de costas , aquele giro discreto, rsrsrsrs....é um exercício pra vida toda de uma bailarina!

Mas o que preciso contar é sobre o dia em que fui ver dança flamenca. Claro que não vou dizer quando, nem onde nem quem, fui a vários shows, mas um deles me decepcionou tanto nesse aspecto de expressão, que mesmo amando o flamenco, me distanciou da vontade de fazer aulas. Os movimentos, a música, a roupa, tudo impecável. Mas...por que, ó Senhor, aquele exagero? Sei que esta dramaticidade está inerente a toda a história e musicalidade famenca.
Mas as meninas tinham um rosto tão lindo, ficavam irreconhecíveis, na maior parte do tempo. Senti a mesma sensação das primeiras cenas de dança.

 Acho que isso é grave, mesmo que fazendo parte. Acho que dá pra fazer milhares de expressões numa única dança, mas as piores a gente tenta deixar pra quando a emoção coincidir de verdade com tal fisionomia. E por favor, estou falando como leiga, não como quem já dança.
 Uma expressão sempre pode ser construída se necessário, inspirada, copiada, mas com o velho bom senso do questionamento sobre o que se quer que a platéia perceba. 

Em compensação a esta vez, vi uma mulher, também do flamenco, e um rapaz, ambos noutra ocasião, que me entusiasmaram muito. Havia uma expressão de dor ou agresividade, muito sutis e variadas ao sabor da música, como se eles me fizessem almejar sempre por um momento ainda mais expressivo, audacioso. Bingo! Aí sim!!! No decorrer da dança, no auge da canseira e na energia da música, estavam totalmente entregues e imersos na sensação real da dança, não desde o início, como na citação anterior. Uma delícia, o bailarino descascando devagarinho seu sentimento mais profundo...entregando os pontos, com seu suor, num crescente até o êxtase!

O êxtase em Maria Pajes
Então vou indo, deixando aqui meus relatos, para que reflitam comigo nesses aspectos e aproveitemos como apoio pra gente treinar o envolvimento e o controle inicial que podemos ter na nossa dança, de modo a alcançar o pico certo da expressão facial mais forte. E pensem no sorriso também, quem nunca ficou com a mandíbula travada ou a musculatura facial presa num sorriso teimoso? Talvez esse sorriso também possa vir de mansinho e gostoso.


4 de fev. de 2011

Assunto pra seguir carreira

Dando uma passeada nos blogs amigos, encontrei no de Rô Salgueiro uma questão que acredito não ser a primeira vez que abordamos, considerando este assunto como um martelo que custa a acertar o prego para a maioria de nós, principalmente para quem já bate suas asinhas solo.
Aconselho as meninas que ainda não se aventuraram em criações dançantes a lerem primeiramente o post que falo sobre o surgimento da própria dança, aqui.
Agora sim, entraremos de cabeça sobre esta segunda nóia que nos envolve com o decorrer do desenvolvimento artístico pessoal: para quem dançamos??? Como se guiar nas intenções e expressões?

Para aprender, dançamos para nós, exercitando o que nos ensinaram que é  bom e certo. Participamos de inúmeras coreografias, conseguindo (ou não) captar a intenção dela conforme o estilo da música.  Tudo varia da didática que a norteia até aquilo em que se acredita. Nos meus primeiros anos absorvi que só o baladi egípcio e o clássico eram os que traziam mais respeitabilidade, credibilidade profissional...talvez entre as bailarinas, o que na realidade são a minoria. Aprendemos sobre muita coisa que dizem ser feio ou errado, ainda bem que as idéias mudam ao abrirmos os horizontes.
É um exercício de paciência, sensibilidade e tolerância fazermos o que a princípio não gostamos ou desconfiamos, para depois descobrir a verdade sobre os mitos!

As bailarinas mais experientes conseguem, com o tempo, captar algumas diferenças relacionadas á sua intenção em cena, conforme o público a qual a dança se destina. Tudo pode variar conforme este público, o tipo de palco, a quantidade de pessoas, a música e a proximidade física da bailarina com este público. 
Vou colocar aqui alguns aspectos do meu aprendizado neste sentido, colhidos e selecionados ao sabor do tempo e através de muitos erros de percurso, rsrs!!!

Há músicas que são mais passíveis de interação e outras nas quais é até interessante manter uma idéia de distanciamento da platéia.  Por exemplo, existem músicas clássicas de pouquíssima variação rítmica, mais densas e tristes, letras poéticas, que clamam por uma interpretação mais introspectiva, mas não deixam de ser uma forma de interação, bastante forte, só que canalizada, de maneira indireta, através da percepção do sentimento da bailarina com a música. Desperta assim, no público, a reação de contemplação. A artista não precisará "chegar" no seu público, chamá-lo com muitos dentes à mostra ou caras de choro "acho que hoje vou morrer" ou o apelativo "veja como eu faço bem". (Hehehe, sim isto existe, faz parte da dramaturgia bellydance, rsrsrs...às vezes muito feio quando exagerado).

Tal música pede uma expressão de maior respeito e concentração, quase um transe, com uma certa dose de satisfação sorrindo em alguns momentos. Essa concentração é interessante quando o público está mais distante fisicamente, em grandes palcos, quando o público é misto ou com uma maior quantidade de bailarinos também. Normalmente, só profissionais sacam o grau de exigência neste estilo.
Desta forma, o primor coreográfico pode se sobressair à uma interação mais direta, sem deixar de de ser estimulante, visto que tal música exige um trabalho de leitura super elaborado.
Lição que a mestra Haqia comentou no work: que apesar de algumas músicas serem tristes, você estará ali dançando, e uma dança não deve ser triste o tempo todo, apesar da letra.

Exemplos de expressão bem definidos:

A entrega e o prazer de Suheir

Quem, eu?

Meu coração precisa do seu amor!

É pra você, sim!

Orit Maftsir: tem mais simpática?
Sim, a Nour é um show de interação!

Tem as músicas clássicas que se classificam como rotina oriental,  egyptian routine, megansia e cabaret style, que tem estruturas mais detalhadas em função da variedade rítmica e sinfônica. São aquelas que em sua maior parte tem uma grande duração, uma imensa e trabalhada estrutura sonora e quando chega na metade dela já estamos a suar frio, entrando em parafusos tentando acompanhar aquele ritmo doido que, por Jesus, não é maksoum nem malfouf, ó Senhor.

Essas são as mais difíceis no requisito "mudanças de humor". Pois além da contemplação ainda temos que tentar levar o público ao delírio, depois ao sonho, depois ao choro e por fim ao riso. Chupa esta manga, colega!
Brincadeiras à parte e com sinceridade vos falo, nem sempre dá. Mas sempre vale a tentativa.
Este tipo de música é querida em mostras, festivais e como variação especial em shows para públicos mais próximos fisicamente, mesmo que leigos, porém, se as músicas não forem muito longas. Esse é um aspecto importantíssimo: a música pode ser liiinda, mas passou o sétimo minuto, duas entre nove pessoas estarão atentas em você. Principalmente se estiverem a jantar. Tome cuidado. Goela a baixo, só foie gras.


Tem dois estilos que são megaqueridos do público em geral: shaabi (incluindo folclore) e derback. Profissionais já fazem nariz torcido para algumas músicas desse tipo, por se tratarem do populacho. Eu adoro, por favor dancem isto! E brinquem comigo, hehehe!

É que podemos considerar neste entremeio as músicas tradicionais, as pops mais moderninhas, saidi...tudo muito animado, recheado de charmes, ironias e brincadeiras. Quase sempre músicas cantadas com versos simples e repetidos.
Só que pra quem anda meio envergonhado, acaba sendo o estilo mais difícil!! Justamente por que a concentração muda, diminui um pouco e dá espaço à interação direta e pretensiosa, no bom sentido.
Neste estilo você precisa mostrar que é bom na conquista, na simpatia, que não tem vergonha de chamar pra dançar e que principalmente ama estar ali, dançando, pulando e brincando.
É possível desenvolver este aspecto expressivo coreograficamente, mas tem que se policiar pra não fechar a cara, tem que sentir a alegria da música com o querer transmití-la ao máximo.

Infelizmente, para exercitar esse estilo, comecei a julgar necessário a assiduidade da dança com um público bem mais próximo, o que ainda é muito difícil no nosso país, pois temos deficiência absurda em locais que oferecem oportunidade para que dancemos toda semana assim, pertinho, chamando o povo. Agradeço de coração ao Lubnnan, restaurante árabe aqui em Porto Alegre, por me dar a chance de trabalhar esse estilo. As meninas me orientam (me puxam a orelha mesmo) em relação as músicas  e como sou exaustivamente clássica, pedem sempre músicas bem animadas. No começo foi o ó, nem tinha tais músicas, mas depois comecei a sacar o funcionamento e hoje em dia tento elaborar um repertório mais shaabi, dando uma quebrada com uma egyptian routine e um derback.

Carinha de "vem dançar, negrinha!", mais shaabi impossível

Crianças dançando shaabi: fuzarca!

Alegria de um saidi!

Com isso percebi que o ambiente e o público sempre se sobrepõe ao que você preza como profissional. Na minha opinião, isto é uma regra. E enquanto você não começar a acreditar que está a serviço disso, vai pecar muitas vezes como eu. Por que eu achava que eu ia educar meu público a se tornar mais "erudito", só que na prática, isso é perfumaria. Pode acontecer, mas só com o mesmo pessoal, várias vezes e numa transição muito suave.
E não dá pra comparar com o que mostramos em sala de aula, onde explicamos o que para nós é realmente interessante artisticamente ou não, pois com o público, a única forma de comunicação e conquista é seu gesto e intenção.
Não que o clássico não cative, mas numa clássica, a percepção é a de que o público não é diretamente necessário, pois a arte está entre a música e a bailarina.
Com um shaabi, se não há público, a dança perde muito da sua finalidade expressiva, visto que é a interação que dá o tom, fazendo com que o público se sinta presente e necessário para o bailarino.

Entendem a diferença?

Concluindo: há momentos em que dançamos para as bailarinas, mas acho que nosso maior erro é quando sempre damos esse tom em todas as nossas danças.

Particularmente acho que devemos dar foco em dançar pro povão sempre, até por que a bailarina que nos assiste também precisa se sentir conquistada e ela sim, tem que aprender a curtir o lance sem ficar cuidando técnica de movimento o tempo todo, como se fosse jurada.

Minha maior reclamação como platéia não é da falta de técnica. Como brasileiras, somos muito estudiosas. O que me deixa doidona é ver que a bailarina tá nem aí pra me fazer sorrir, me encantar. 

Vejo bailarina talentosíssima, com um quadril  que Deus nos defenda, mas parece que estão com prisão de ventre, uma tranqueira só...imitam a Randa, só que sem força, sem atitude, sem balanço, sem básico egípcio...Ah, como eu sinto falta de quadris pesados, soltos e audaciosos no momento de maior explosão do ritmo! É isso que o povo gosta! Entusiasmo! Você não? Duvido, nega...

Eita quadril poderoso, essa Bozenka!
  Por favor, quero muito saber sua opinião, como bailarina, profe ou aprendiz e como platéia, quero saber se esclareci ou se confundi de vez, hehe!!!! Divulguem o assunto pra gente pesquisar as opiniões! Grande beijo!