1 de mar. de 2010

Querer, depois fugir

Fama. Sobre isso que quero falar. Faz tempo que ando observando epistemologicamente esse assunto. Eu, como bailarina e artista mais "antiga", posso estar desenvolvendo aos poucos um certo critério em relação a isso, pois apesar de a dança do ventre não ser nenhuma paixão nacional, já me percebi constrangida por alguns reconhecimentos...no começo fiquei perdidaça, pois chegava em alguns locais (não viajei quase nada ainda) mas vez ou outra alguém me abordava, dizendo que me conhecia da dança, que era minha amiga do orkut, elogios e tal.Cara, que verg! Como reagir a isso? E olha que não é nenhuma sangria desatada, quem dirá alguém mega conhecido! Pois então, como minha reação ao ser surpreendida não foi tão ruim, mas ao mesmo tempo que é gostoso é desconcertante, comecei a observar o comportamento de grandes artistas diante da fama.
Em primeiro lugar, quero esclarecer que o que estou escrevendo não é que eu queira ensinar padre a rezar missa ou enaltecer uma popularidade que não existe (imagina o Cristian Pior falando...). Muito mais do ponto de vista de fã, que então faço minhas análises.
Esses dias surpreendi-me no Habibs Ao meu lado, no caixa, uma grande jornalista gaúcha, com sua filha, fazendo um pedido. Sabe que é a moça não olhar para o lado? E a pateta aqui olhando bem pra cara dela, jurando que ela iria se comprometer em me dar um oi querido. Hahaha. Gente...me senti uma baratinha querendo fugir pra baixo do balcão. Dá um tempo, vai? Pode até ser tímida ou ter medo, mas isso já é falta de educação com teu telespectador, pois as vezes somos obrigadas a assistir sua imagem dourada, bronzeada e assada, ao meio dia, ouvir sua voz como ótima jornalista que és, tenho certeza que ninguém reclama por isso, pelo contrário, temos orgulho de você, sua nojenta. Qual o problema em saber que está sendo reconhecida e saber cumprimentar quem não conhece? Afinal aqui no sul todo mundo te conhece, você pode dar oi pra quem quiser aonde chegares! Só pra terem uma idéia, certa vez eu atravessava a rua no centro de Poa, quando vi dentro de um lindo carro vermelho a Marley do programa Palavra de mulher, um sorrisão nas orelhas, linda e abanando pra mim, de dentro do carro! Achei o máximo!

Acho que as pessoas que dão sua cara a tapa para se tornarem públicas em grande proporção ou até em pequeno meio ( como o da dança, e que cresce a cada dia), tem que se preparar para saber enfrentar isso e curtir o lance! A maioria das pessoas gostaria de ter uma fama legal, no mínimo, de alguém eficiente, inteligente, bonita; quem não quer deixar uma marca da sua passagem como alguém que teve uma importância bacana, um ensinamento, um estilo, uma arte...ah, caramba!
  
Quer ver quem eu mais admiro? Ivete Sangalo, no geral. Na dança? Lulu. Essas duas mulheres são fantásticas. Lulu é acessível, divertida, ótima professora, carismática e atenciosa. Ela fala contigo, parece que já te conhece há anos e como se não bastasse, consegue te deixar tão à vontade que dá a sensação de estar falando com a melhor amiga.Incrível, um grande exemplo a ser seguido. Em contrapartida, tem umas fofas que te olham com uma formalidade, uma superioridade absurdas. A Ivete é o máximo. Posso não gostar muito de axé, mas convenhamos, a mulher é original e supersimpática, engraçada, ligeira. Alguém me contou certa vez que ela chegou num lugar aí, e do aeroporto teria que se deslocar para o local do show, mas iria passar no centro da cidade, então ofereceram um transporte com vidros fechados, pelicula, aquela frescurity.
Amei foi a resposta que disseram que ela deu, que não iria passar no centro da cidade, encerrada num carro quase blindado, pois de que adiantaria ser Ivete Sangalo, querida e amada no Brasil todo, se ela não pudesse mostrar pra quem quisesse ver, que ela estaria ali, ela queria ser vista sim senhor e dar oi pra toda galera.
Isso eu chamo de inteligência emocional e respeito ao próximo, pois não interessa o que você é ou faz, se a pessoa é uma figura pública, no mínimo ela se tornou assim pela admiração da grande maioria, e deve ao povo não só a oportunidade de mostrar sua arte como também é totalmente sustentada por ele! Quem paga pela cerveja que a patrocina? quem paga os ingressos pra ver o show? Nada mais justo!
Artistas, ponham a mão no resto de consciência que ainda há em vossas cabeças e sigam o exemplo. Entendo perfeitamente as questões perigosas da fama, a auto-preservação, não é facil mesmo. Agora, esse papo de não querer ser incomodado, não querer aparecer ou ter que tomar droga por causa da fama é coisa de mané. Pode até pedir camarim reservado, comidinha diferente, transporte adequado, seguranças e tal, isso é gostoso e faz parte, mas não façam transparecer vossa indiferença conosco. 
E para as bailarinas que talvez sonhem que a dança do ventre lhe renda um tostão de fama, o pedido é o mesmo. O respeito e o amor pelo seu reconhecimento público e pelas pessoas é a melhor forma de gratidão pela sua arte, mesmo que pequenininha perto de uma orgulhosa e irreverente Ivete!

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