Continuando o texto anterior (por favor não deixem de ler o primeiro para sua melhor compreensão), resumo brevemente que falava de caracteres da dança genuinamente egípcia.
A sensualidade, de forma saudável, faz-se necessária. Esse tempero mais abusado que vemos nos egípcios pode ser reconhecido como uma elevada segurança e auto-estima, mais do que isso, verdadeira paixão e admiração por si mesmo e que conseguem demonstrar para nós, contagiando-nos.
Eu só consigo ver isso nos egípcios. Cada um do seu jeitinho. Uma interpretação única e muito pessoal.
O que se pode ver além de alegria, personalidade, meiguice e forte identidade é uma perfeita falta de vergonha de ser quem é, e nenhum deles está nem aí, se alguém os imagina entre quatro paredes ou não (eles sugerem bom desempenho, rsrsrs). Talvez na dança com mais "sex-appeal",haja intencionalidades, porém este não é normalmente o objetivo e nem ao assistir. Realmente não me interessa julgar isso através da dança, mas entendemos integralmente o quanto bailarinos são mais ou menos"sexy".
Eles realizam um trabalho com a dança onde não há ênfase para a sedução individual, direta: ela se distribui coletivamente. Criam um vínculo mútuo de atenção e conseguem manter-se harmônicos, numa troca contínua e atingem uma boa interação (rapport, na psicologia) e oferecem à nossa visão aquilo que queremos/gostamos ver. Não desperdiçam seu charme com conversa fiada e mandam ver, encantando e ao mesmo tempo, mantendo uma relativa distância (artista - platéia), chamando nossa atenção por seu imenso carisma. Maravilhosos desavergonhados! Tudo no bom sentido.
O charme está na conquista. Como transformar sua dança numa verdadeira conquista? Como você faz, quando está apaixonado ou flertando, quando quer uma resposta positiva? Se sair agredindo, nem sempre leva e se embromar demais, cansa.
Então se o negócio é ir pelas beiradinhas: faça sua dança assim, e observe. Use seus instintos e seus sentidos! Aproveite as ferramentas que possui, não só aquilo que você vê em aula ou em vídeo. Tente ir além, pois você é quem se conhece e transmitir um pouquinho dessa intimidade autentica é que faz a diferença.
Em contrapartida, desequilíbrios são, de certa forma, essenciais para conseguirmos alcançar um meio termo. A fase do estrelismo, por exemplo, nos coloca numa ansiedade muito forte, num ímpeto de querermos mostrar o máximo de tudo que sabemos, revelamos uma avalanche de informações que às vezes intimida, quando não agride. Ainda não temos o senso do harmônico, e abalar se torna uma obstinação.
A vulgaridade está numa linha tênue com a sensualidade e esse é um momento perigoso, acaba-se por acelerar o tempo de maturação das coisas em função do desejo de ser notável. E não se julgue por se sentir nesta ansiedade um dia, pois isso é muito natural nesta dança, que lida tanto com nosso eu feminino e vaidoso. O importante é ter alguém que ajude a reconhecer este momento impetuoso, para ter uma boa passagem nesta fase, sem "torras de filme" ou desvalorização profissional. Não desmereça possíveis críticas, nada é por acaso.
Do contrário, a fase "querida" é muito boa e educativa, mas acredito que não deve durar para sempre, pois acabaria mais como máscara do que como realidade. A vida nos exige mais atitude e personalidade com o passar do tempo e a cada ciclo de dança (pois paramos às vezes e recomeçamos) percebemos o quanto de nós fica e o quanto precisamos mudar. Muitas vezes esta mudança é como a que se sofre num relacionamento de longos anos, quando principalmente a "esposa ideal" descobre que se não tivesse sido tão perfeita e conivente é que seria, de fato, ideal. O casamento com a dança não é diferente.
E na busca de uma identidade e do carisma, encontramos aquela a quem calamos, seja ela a bruxa, a mártir, a donzela, a fada ou a amante sensual. Tudo é uma questão de oportunidade e autoconhecimento. Na verdade precisamos de todas! Qual seu momento, então? Qual delas precisa despertar?
Um comentário:
Adorei!
Já tive a fase de fada, sabe... mas depois que comecei a estudar a Nagwa Fouad (olha eu falando dela de novo! É que rolou uma química retada! Rs!), estou me permitindo mais essa coisa safadinha... lógico, dentro do meu jeito meio brejeiro, mas, porque não?
O público espera isso da gente: ser sensual. Pq não mostrar um pouco à galera o que a galera quer ver? Sem hipocrisia, né? Nenhum artista sobrevive sem público.
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